domingo, julho 02, 2006

A 100 À HORA - Capítulo 11

Capítulo 11

Continuado por: Orlando Dias Agudo


Agora sim, estava fortemente convencido que estava num beco sem saída. E pior do que isso, tinha perdido o controlo da situação, já que, sem saber como, algumas coisas tinham acontecido sem eu delas ter tomado consciência. E tinha de reconhecer a inteligência de Sofia. Pela forma como me tinha “dado a volta” e também como me soubera ultrapassar nos factos. E a troca dos telemóveis? Teria sido ocasional ou pensada e realizada com toda a frieza.
Era isso que tinha de saber. Se não começasse a raciocinar com lógica, perdia por completo os cordelinhos da situação e passaria a ser eu a marioneta deste teatrinho de fantoches.
Para tentar iniciar a arrumação das ideias, peguei no telefone fixo do escritório e disquei o número do meu telemóvel. Seria certamente a Sofia a atender e se o fosse talvez descobrisse alguma coisa mais….Ao terceiro toque Sofia atendeu…
- Sim…
- Quem fala, perguntei…
- Não me digas que não conheces a minha voz…
- Peço desculpa, mas estou a tentar falar para…mim…para o meu telemóvel…
(do outro lado ouvi, nitidamente, uma salutar gargalhada…)
- O telemóvel pode ser seu, mas não é você quem está falando…- respondeu Sofia…
- Pois, eu não sou….o que acontece é que perdi o meu telemóvel e estou tentando saber onde o posso ir buscar….
- E não tem ideia onde o poderá ter perdido?
- É esse o outro problema. É que não faço ideia…- menti
- Que tal rever o que fez e por onde andou nas ultimas 24 horas, por exemplo?
(Sofia entrava no jogo e queria saber, também, até que ponto eu dizia toda a verdade)
- Há coisas que eu recordo mas não vou contar a uma desconhecida…
-Desconhecida eu ? Ora deixe-me rir….Aposto que ontem, a esta hora, você me conhecia e bem…quase diria por dentro e por fora…..
( Agora não podia fingir mais…fiz uma pausa e disse…)
-Sofia?
- Isso quer dizer que desde ontem a esta hora não esteve com mais ninguém….e isso agrada-me!
- Sofia….deixei o meu telemóvel em sua casa?
- Respondo com outra pergunta: sua secretária não lhe deu nenhum recado?
- Não…ainda hoje não a vi…- tornei a mentir.
- Então quando a vir ela tem um recado para si… e a propósito, ^tu não tens nenhum para mim?
- Como havia de ter?
-Por acaso não levaste o meu telemóvel, por engano, em vez do meu?
- Sim, talvez…mas está no carro. Quando lhe peguei esta manhã vi logo que não era o meu…
- Pois foi…saíste muito á pressa…quase que nem te despedias de mim, como devia ser….
- Talvez, peço desculpa…mas o trabalho chamava… ainda estás aí no Algarve?
- Não querido…estou a caminho de Lisboa, onde estarei dentro de 2 horas. Queres ir almoçar comigo?

Aquele “querido” era uma faca a querer espetar-se nas minhas costas. Mas aceitei o convite e marcámos uma hora para o encontro. Local: não evitei que fosse em casa dela…

O resto da manhã não rendeu o que deveria ter rendido. A par da embrulhada da situação, havia ainda a recordação de tudo quanto se passara naquele fim-de-semana. Tinha sido muito bom sob um aspecto e muito mau por outro. Em que situação eu me haveria de me meter ou eu deixara meter-me…Com as ideias completamente embaraçadas, tentei adiantar um pouco o que deixara para traz e deixar o tempo e as circunstâncias acontecerem.

Esqueci Marlene, a eficiente secretária e eterna candidata a horas extra na minha cama e á hora combinada lá fui ao encontro de Sofia. Propositadamente cheguei um pouco atrasado, mas ela sabia mais do que eu pensava. Abriu a porta e vestia apenas um robe muito leve que deixava antever o seu esbelto corpo. Colou de imediato os seus lábios aos meus e desta vez não foram só os lábios: todo o seu corpo se uniu ao meu num convite irrecusável. Se um homem não é de pau, então eu sou homem de verdade…

A 100 À HORA - Capítulo 10

Capítulo 10

Continuado por: Marta Luís

Acabei de chegar, e já todo eu ansiava que fosse final do expediente, o que normalmente acontece só lá para as dez da noite. São oito e meia da manhã, e tenho a terrível sensação de que, todos me olham de lado, como se realmente, eu retornasse diferente do que era, há poucos dias.
Sei que já é terça-feira, sim, faltei um dia ao escritório, e depois?...Ninguém morreu, aliás, liguei a cancelar tudo o que tinha para ontem na agenda.
Na portaria, parecia tudo igual, até as flores, mas voltando atrás uns instantes, vejo o Sr. João, no cumprimento de cabeça habitual, e logo aí, um sobrolho franziu.
No elevador, a Marlene já com os jornais de hoje debaixo do braço, no seu fato saia casaco impecavelmente bem passado, nem bom dia me disse, o que não acho nada normal, tendo em conta que me apaparica todos os dias, de forma extremamente insinuada, de cada vez que se cruzamos, em trabalho ou não.
Ninguém me espera na sala, e pensava eu, que ela adiara os compromissos para hoje, para não fazer esperar mais os clientes.
Entro no meu gabinete, e nem sequer cheira a café…a minha assistente está de mau humor, e eu estou realmente, sem paciência, como há muito não me trancava, indisponível para qualquer tipo de conflito, quer profissional, quer pessoal. Trago o corpo cansado de tanto prazer, e também da viagem, e o cérebro desgastado de tanto tentar desenrolar-me da teia em que me vi envolvido, este fim de semana, prolongado e tão complicado, isto psicologicamente, porque de resto foi dos melhores que já tive...!
Passei duas horas de caminho, sem apreciar a paisagem, sem aferir o muito ou pouco trânsito, sem mais em que me embutir senão no meu mais recente e maior puzzle humano de sempre, sempre a matutar, em como vou eu sair desta, ou a tentar decifrar, se quero ou não sair, desta história inimaginável.

- Dr. Mário … Oiço a Marlene e a maior das indiferenças aplicada naquela voz, que até tinha por hábito ser meiga… Tem um recado urgente em cima da sua secretária. Precisa de alguma coisa?
- Marlene, então e”Bom Dia”, já não se usa, neste escritório?
- Algumas coisas mudaram, por estes dias doutor.
- Sim?... Há novidades?!...Então, traz-me um café e vamos rever tudo.
- Trago já doutor. E saiu, sem um sorriso. Algo de estranho se passara, por aqui, também.

Pelo tom de Marlene, prevejo no imediato que, o resto da semana, será muito terra à terra, tão rotundamente frio, que o suponho desde já um resto de semana violento. Ela era tão certinha como eu. Como eu era, porque agora, depois disto já nem sei…Ainda estava a ambientar-me, como que a aterrar, deste sonho que começou sonho e, se tornou em dilema, e de dilema passou a grande confusão na minha cabeça, pior que isso, grande pancada, no meu coração.
Desde os meus vinte e cinco anos que não me sentia assim, tão enamorado, tão enfeitiçado por alguém, e era Sofia, quem não me saía do pensamento, como gravada no meu corpo. Em tão pouco tempo, conseguiu fazer-me de novo adolescente e esperançado, acreditar que havia alguém com quem eu poderia fazer um par.
Desde a Maria, a minha grande paixão, Maria, que me trocara por outro amor, há dez anos. E desde aí, todas eram marias passageiras para mim, sem que tivesse nunca nascido mais pequeno tipo de vontade de me prender a nenhuma, como agora, se insurgia este elo tão forte com Sofia.
Mas não, esta Sofia/Maria, também não era para mim, estava lá o Gabriel com ela, era casada, embora o seu cheiro ainda estivesse entre a minha pele e a ponta dos meus pelos, embora o toque macio e sábio dos seus lábios, ainda soubesse a pouco nos meus.
E mais, os dois queriam usar-me para terem um filho, uma criança que nem sequer desejavam, apenas queriam, para herdar, valores que se levantavam. Ou pelo menos, fora esta a treta que me impingiram.

Fui até á janela, e entreabri a persiana. O sol ameno e as nuvens brancas, e cheias de forma e expressividade, como que a 3 dimensões, as pudesse tocar, logo ali ao estender da mão, estas nuvens e, a luz de Lisboa, fizeram-me falta. Sim, estava a precisar de paz. Tinha uma resposta para dar a Sofia, até ao próximo fim-de-semana, e não estava minimamente interessado em trabalho, em acusações, em defesas, em argumentos, em provas, em esquemas viciados de processos obsoletos, que já nada me diziam, quando tinha em mãos este caso tão delicado e, tão simples ao mesmo tempo, para resolver.
Simples, porque não caberia na cabeça de ninguém aceitar uma proposta destas: Ser pai, de um filho que um casal queria ter, apenas para apoderar-se de uma herança.
Bolas, que coisa fria! Podiam ao menos ter-me dito que a esterilidade os mantinha infelizes, e que o sonho do casamento que os unia era terem esse filho, que me pediam. Mas não, nem isso, para tornar menos calculista e um pouco mais romântica esta proposta indecente que me deitaram aos pés... E, que seria dessa criança? Será que tinham pensado nisso?
Simples, porque bastava ter dito logo que não.
Mas torna-se tão delicado resolver um pedido pelo não, quando no fundo até queria ter mais uma vez, aquela mulher nos meus braços, no meu colo…
Eu dava-lhe todos os filhos que ela quisesse, se os quisesse meus, e para os ter comigo. Ah se ela soubesse…o quanto eu estava desejoso de plantar nela a minha semente…!

- Está aí doutor? Tem aqui o seu café.
Entrou a Marlene, e voltei a cair em mim. E começava a intrigar-me este desprezo todo.
- Então, só um? Não trazes para ti?
- Já bebi lá em baixo, obrigada. Se não precisa de mais nada, retiro-me, estou no meu lugar.
- O que aconteceu, no fim-de-semana por aqui?
- Por aqui nada…mas em compensação, o seu fim-de-semana deve ter sido muito interessante…! E voltou-me as costas, inabalável aquela Marlene que se revelava realmente zangada comigo hoje, por uma qualquer razão.

Tirei o casaco, agarro no pires do café, e em meditação suplico aos céus com todas as minhas forças, para que não hajam mais chatices destas para me distrair do que realmente hoje é importante para mim. Voltar a assentar os pés no chão, entupir-me de trabalho para esquecer e, depois sim, fazer uma cura de sono e arrumar as ideias, para me decidir, quanto ao que fazer com Sofia e com o seu pedido, seu e do seu marido, o meu amigo Gabriel. O estéril que não se importava que eu fecundasse a sua esposa, só para ganhar, muito dinheiro com isso, e só por isso. Estou definitivamente, a encher-me de revolta ao pequeno almoço.
Pouso de novo a chávena do café que já bebi de um só trago… e lá estava, o recado de que Marlene me avisara:
- “Doutor: Ligou a sua amiga Sofia, para dizer que esta madrugada, antes de sair, trocou os telemóveis. Ela vem a Lisboa amanhã. Assina: Marlene.”
Agora sim, percebia a indiferença, o amuo de Marlene, que nunca conseguiu demonstrar-se indiferente aos meus casos, e a quem um telefonema destes pela manhã, a deixara certamente, escandalizada, completamente incrédula.
Há meses, que Marlene me dizia para sair, para me distrair, para partilhar as horas pós laborais com uma presença feminina, acredito, sempre na esperança de um dia, eu a convidar a ser essa pessoa, a meu lado, em qualquer lado menos ali, no escritório.
E agora ela estava decepcionada comigo. Eu ligara ontem a dizer que, me tinha retido mais um dia fora, para estudar o caso que tinha em mãos, e para preparar a defesa de um amigo dela, que entendia inocente, numa acusação de burla agravada. E agora ela sabia, que eu mentira.
Sim, nem eu me reconhecia após este fim-de-semana. Dormi vezes sem conta e, amei outras tantas vezes, a mulher do Gabriel, a mulher que com ele, quer um filho meu. Baldei-me ao trabalho, e menti àquela que até hoje se achava a minha maior confidente, a minha dedicada assistente.
Abro a pasta que largara na poltrona há instantes, e pego o telemóvel. Sim, o meu e o da Sofia eram iguais, na cor e modelo, daí a troca. Sinto o seu perfume, neste objecto pequeno e raso, e não resisto a apertá-lo entre as palmas das mãos…e a abri-lo.
Levantei a tampa, e confirmo, o fundo escolhido não era o meu, não tinha a águia, nem o brasão do glorioso, tinha uma borboleta, bonita sem dúvida alguma, só poderia ser um telemóvel feminino, tal como a dona, sensual até nestes pequenos toques.
“Tem uma mensagem nova”, leio no visor, e instintivamente, aceitei ler, como se fosse o meu telemóvel, quase sem querer, mas no fundo, por querer mesmo ler, quem e o quê, escrevera à minha musa, nas últimas horas.
E, há uma ideia que baila, neste desenrolar do meu café da manhã, e frente a este recado de Marlene: Se Sofia ligou, sabia o número do escritório, e para saber, teve que o descobrir, mexendo no meu telemóvel, e consultando a minha agenda pessoal. Então, porque não posso eu fazer-lhe o mesmo?! Claro que posso…Desconcertado parti à descoberta do que não queria, naquele pequeno telefone, que Deus quisera pôr, nas minhas mãos.
O Remetente era apenas a palavra “Amor”, em maiúsculas, pelo que deduzi, fosse o Gabriel. E o SMS era curto: “Volto na sexta. O congresso é de 3 dias. Bruxelas precisa de mim. Beijos” …e de repente apanho um susto, que quase recuei atónito. O telemóvel tocou e vibrou nas minhas mãos, e inexplicavelmente, eu ao segurá-lo, atendi a chamada.
Estava em linha com o amor, do meu mais tempestuoso amor de sempre e, não podia dizer uma só palavra. Limitei-me a encostar o móvel ao ouvido e, a suspender a respiração, naquele minuto que se seguiu:
- Amor, recebeste o meu SMS?...sim amor …Sofia…está lá… Sofia… não deves ter rede, …já te ligo ….E desligou.
Ainda estava meio atordoado com este inesperado telefonema, tanto que me sentei abruptamente naquela poltrona que me recebeu sem qualquer queixume.
Do outro lado o Gabriel. Aqui, estou eu, e no meio a Sofia.
Mais uma vez, entrei em transe, e divaguei entre a realidade que eu queria e sentia, e a realidade que me tinham transmitido. Planava entre a frieza com que os dois, ele e ela, se tratavam na minha frente, e entre estas pequenas demonstrações de carinho e, mais baralhado ficava, com as cenas exaustivamente fantásticas de prazer que vivera nos últimos dias, com aquele amor, que não era meu.

A minha primeira vontade agora era voar para o Algarve outra vez. Sabia que o Gabriel ficaria fora por mais alguns dias, e mais, que no fim-de-semana, estando ele, não poderia estar eu, com Sofia.
E porquê viria ela a Lisboa?
Reaver o telemóvel?
Para isso servem as transportadoras.:!
Mais uma vez tinha a certeza, que ela também me queria, muito mais a mim, do que àquele filho, que não existia, e que nunca iria existir, pelo menos no final que eu idealizava, para esta história.
Já em cima da secretária, o telemóvel dela, voltou a tocar…

A 100 À HORA - Capítulo 9

Capítulo 9

Continuado por: Orlando Dias Agudo

Aproveitei para fazer o resumo da situação: tinha passado a noite com a mulher de um antigo colega, estava em falta para com as obrigações profissionais, estava em guerra com a minha consciência…e estava com uma vontade enorme de repetir tudo pelo menos uma vez mais. Sofia, impávida e serena, vestindo apenas um roupão muito ligeiro, continuava a preparar o nosso pequeno-almoço que, pelas calorias dispendidas nas últimas horas teria de ser bem suculento…
Quanto a mim…permanecia estendido no sofá onde não me cheguei a sentar na véspera, apenas com uns calções que deveriam ser do Gabriel, esperando e pensando ao mesmo tempo. Foi quando Sofia surgiu, com a bandeja cheia de torradas, uns frascos de doces, mais queijo e manteiga e duas chávenas de café com leite. Colocou a bandeja em cima da mesa, veio para junto de mim e ofereceu-me aqueles belos e sensuais lábios. Quando os desgrudou dos meus, fez a primeira queixa:
- Ontem mordeste-me o lábio…
- Sinal de que o queria comer, - respondi com um sorriso malandro….
- Mas acabaste por comer muito mais do que o lábio….
Resolvi não dar continuidade á conversa pois poderia acabar de uma forma pouco digna. Preferi orientar noutro sentido…
- Mas agora estou mesmo a precisar é de uma torradinha e de um café…Aposto que estão deliciosos…
- Vamos e enquanto mastigamos, podemos finalmente pôr a nossa conversa em dia…
Sentou-se na minha frente, olhando-me com aqueles grandes olhos e sempre com um sorriso a bailar-lhe nos lábios. E foi durante o pequeno-almoço que finalmente Sofia começou a falar…
- Olha Mário: vou ser extremamente directa naquilo que tenho a dizer. É evidente que quando pedi a tua ajuda, no meio da estrada, não fazia ideia de quem eras. Para falar verdade só soube no dia seguinte, quando contei ao Gabriel quase tudo quanto me havia acontecido e ele descobriu, por A+B, que quem me ajudara no meio da estrada só podias ser tu. Não me perguntes como chegou a essa conclusão. Só sei que depois de muitas perguntas, incluindo a matrícula do teu carro, ele chegou á conclusão que quem socorrera a sua esposa era um antigo colega do liceu.
Propositadamente, não interrompi…
- Depois, a minha cabeça começou a funcionar. Era evidente que tu me agradavas, eu muito provavelmente também te agradava, portanto o destino havia traçado o rumo a seguir. Porque, Mário, e isto agora é muito sério e peço-te que guardes segredo, pois só nós os três estamos dentro deste segredo. Concordas?
-Claro que sim….mas começo a estar intrigado….
- Não há nada para ficar intrigado. O que se passa é que Gabriel é estéril e simultaneamente herdeiro de uma fortuna incalculável. Mas há um pequeno óbice: a fortuna não vai directamente para ele, mas sim para um filho que afinal de contas ele não pode gerar. Coisas de uns tios donos ainda dessa fortuna, que colocaram em testamento essa condição tendo-lhe dado conhecimento. Portanto a situação é a seguinte: Gabriel precisa que eu lhe dê um filho…mas ele não pode ser pai.
- E onde entro eu?
- Eu e ele escolhemos que serias tu o pai dessa criança….
- Por isso o primeiro beijo ontem á noite…e a oferta depois de termos ido ao aeroporto?
- Não…não confundas…O beijo foi porque me apeteceu e a oferta, como tu dizes, foi porque…estava necessitada!
- E porque julgam vocês que eu alinho na concretização dessa história?
- Ainda não sabemos que alinhas ou não…claro que no aspecto legal o Gabriel falará contigo. E ao recordar esta noite, estava quase disposta a apostar que aceitarias…
- Tenho de pensar…mas agora precisava mesmo era de um banho….
- Eu também….vamos juntos tomar um duche?
O convite era irrecusável. E ela sabia. Por isso levantou-se da mesa, pegou-me na mão e puxou-me até á casa de banho. Sem nunca me largar, pôs a água a correr, desatou o laço que apertava o roupão que caiu indiferente a nossos pés. Depois, ela própria tirou os meus calções. Depois foram dois corpos nus que entraram na banheira, para se fundirem num só, uma, duas, três vezes, sei lá quantas mais!

A 100 À HORA - Capítulo 8

Capítulo 8


Continuado por: Marta Luís

- Chegámos…Foi a única palavra que me saiu, quando soltei a chave da ignição, frente àquele refúgio.
- Vamos. Respondeu-me Sofia prontamente.

Já não estava ansiosa como no aeroporto…pareceu-me serena, descansada. Pelo menos o silêncio daqueles minutos, terá servido para a descontrair.
- Não sei se deva entrar!...Respondi, e logo em seguida me arrependi, com medo que ela pensasse o mesmo, naquele preciso instante.
- Deixa-te de coisas, e entra…ainda temos a sobremesa!
Atirou-me com aquele olhar que mais uma vez me desconcertou.

Sinceramente, o meu apetite, era cada vez maior, talvez por reconhecer em cada gesto seu, em cada silêncio, em cada olhar, essa mesma vontade de estarmos juntos, também da parte dela. Mas, e o Gabriel? Que iria eu fazer com esse respeito que lhe devia?...E ela, Sofia, iria conseguir desligar-se dele, enquanto estivesse comigo, logo agora, que nos sabia conhecidos de tantos anos…?
Abriu-me a porta, como quem inverte os papéis e, foi uma verdadeira cavalheira comigo, estendendo-me a mão, já do meu lado do carro, do lado de fora, e deu a volta, sem eu me aperceber, enquanto pensava, e mais uma vez penso que, estava a pensar demais. Afinal, eu é que estava a ser chamado, atraído, a todo este emaranhado de sentimentos, de acontecimentos tão inesperados, e tão simultaneamente fortes, tão inocentes e românticos como cheios de fantasias que me assaltavam a mente, que chegavam a magoar de tão reais.
Deixei-me mais uma vez levar…nada tinha a temer. Aliás, com mulheres, já tinha perdido tudo o que havia para perder…anos atrás. Consegui segui-la até á sala, sem receio, e sem uma palavra, mantendo o silêncio que ela própria impusera na viagem desde o aeroporto até aqui. Entrou à minha frente, e descalçou-se, sem fechar a porta, (fui eu que a bati) e, soltou-se do grande lenço que lhe escondia o pescoço…e foi direito ao bar…
Estávamos ainda de pé… eu sem sabia por onde começar, a falar, ou a ouvir.
Tinha a sensação de que esta conversa não iria agradar-me, nem sequer estava interessado em conversar, com esta mulher que me atormentava desde que a vira a pedir ajuda na estrada a primeira vez, há dois dias atrás. Essa, que pouco me interessava se era praticamente uma estranha, ou se era a mulher de um antigo amigo da escola, e que afinal até já nem estava ali, nem na sala, nem no casamento deles, a mesma que me despertava uma vontade louca, sem medo, de a agarrar.

Serviu-me um velho malte, igual ao seu, e estendeu-me o braço, o copo, … e como um íman, o corpo todo.
Sem mais dúvidas, voltou a tirar-me o copo das mãos e, beijou-me, como se sempre o tivesse feito, e eu saboreei-a, como se já conhecesse aquele gosto, e gostasse, há tanto tempo!
Um beijo a que nunca em tempo algum, alguém conseguiria dizer que não, pelo menos eu….

Nem foi um beijo, nem de despedida, nem de chegada, ou de partida. Foi um beijo como que uma senha, um convite, para ir mais longe, para não parar por ali.
Esta mulher ou sabia, ou sem querer mesmo conseguia excitar-me, ao ponto de a querer beber, sugar de amor, e eu ainda bem que tentei parar, mas, não consegui:

-Sofia…! Nós íamos falar de alguma coisa…! Queres dizer-me …?
- Não. Não quero dizer-te nada…neste momento não há palavras que possam exprimir o que sinto!
Olhou-me nos olhos como quem tem um rasgo de lucidez, e no meio de tanto fulgor, imperava a clareza da sua fala, mais uma vez, surpreendendo-me:
-Quero viver este bocado contigo sim, quero sentir-te em mim, sem que palavra alguma te afaste, ou te force…

Ia dizer mais alguma coisa sim, mas não o permiti… Calei-a, com o grito feroz de todo o meu desejo, apertei-a em meus braços, e não insisti mais em ouvir o que quer que fosse, que me roubasse aquela mulher ali, e agora.
Foi minha, lentamente e docemente, infinitamente minha.
Fomos um do outro, pela sala, pelo chão, e as horas passaram e nós acordados.

Estava esgotado, Sofia não menos… Acabáramos na banheira, enlaçados um no outro, afogados em prazer.

Foi quando ela se preparava para ir buscar algo para comermos ao frigorífico que, tocou o telefone. Eram 6 e meia da manhã, e o sol nascia para nós, assim como um novo dia.

- Bom dia…sim acordei! Seca, distante, ela lá ia acenando, e dizendo que sim para o telefone.
Ali, eu senti-me a aterrar de um sonho… acabara de seguir o meu coração, e consequentemente de trair, um velho amigo, e de faltar ao escritório onde já deveria ter chegado ás 5 e 30, para mais uma semana super certinha, de agenda cheia e organizadíssima.
Do outro lado, claro que era o Gabriel, pareceu-me explicar-se, de que não ligara ontem à chegada, porque já ia cansado e, dizia que não sabia quando ia voltar.
- Não faz mal, quando souberes liga.