domingo, setembro 24, 2006

A 100 À HORA - Capítulo 14

Capítulo 14

Continuado por: Marta Luís


Já ia ficando esquecido, mas, fui a tempo de agarrar o telemóvel, na cabeceira da mesinha de apoio. Certifiquei-me de que era o meu, igual ao dela, ali mesmo ao lado e, fugi porta fora… Fugi de Sofia, mas não sem um sorriso já de saudade, ao vê-la assim, amuada, qual menina mimada desiludida.
Fora mais uma mão cheia de sexo, puro e fantástico, mas também mais uma vez, aquela mulher insaciável, esgueirava-se-me por entre os dedos, como areia, e continuava sem saber o que fazer com ela… para além desse doce exercício de prazer, que me enlouquecia, e me prendia como nunca quisera antes ficar preso.
Outra vez me senti como que um dom roberto, qual marioneta, a abandonar o jogo a perder, e sem decifrar qual a próxima jogada.
- Ligas-me mais tarde? …Perguntou ela com uma expressão mais triste e com a sua cabeça de cabelos soltos e ainda molhados, enfiada na fresta aberta da porta, para onde se arrastou em bicos de pés, para se despedir de mim.
- Talvez…respondi enquanto acenei e desci.
Já no meu carro, volto a levar as mãos à cabeça, e a magicar, como tudo está a acontecer-me tão sem lógica, tão de repente, tão sem rédeas para me segurar… Solto um suspiro sem perceber; porquê eu, nesta história?...quem sou afinal eu, nesta história? Ou…como sair desta história…?!
A esta altura, por mais homem ou macho latino que seja, começo a quebrar, e a achar que, vou acabar é por sair magoado, de tudo isto… Não nego a vontade que tenho de ficar com Sofia, mas ainda não entendi, o que quer esta deusa de mim, para além do trato que, com o seu marido, me propôs.
Esse, não dissera quando ia voltar…mas eu sabia que era agora, neste final de semana que discretamente se fazia anunciar…afinal o tempo corre, assim como eu corro neste momento, para o escritório. Nada preparado para o que ali me aguarda. Esta semana, é para esquecer no trabalho, mas, certamente será uma semana inesquecível, neste tórrido capítulo que agora se escreve, da minha vida.
Como deslavado da memória, tenho a sensação que liguei o piloto automático, e levei todo o caminho emaranhado entre cenas que envolvem agora três mulheres, que perpetuamente me aparecem, como um puzzle incompleto… Maria, Marlene e a Sofia… rodam à vez, como um desafio à minha frente, e dou comigo a compará-las entre si, e a tentar encontrar um elo que as una a mim, ou a esta minha manhã que se adivinha muito pouco produtiva, tal é a confusão que se instala no meu pensamento.
Neste momento, se alguém me desse uma das duas hipóteses, eu acreditava em ambas; estou a ficar louco, ou então, apaixonado.
Estacionei e acenei ao Sr. João, que mais uma vez, me olha de esgueira, como quem não reconhece o Mário de antes, o Dr., e como quem me analisa, com o olhar critico de alguém que já ouviu alguma coisa, que censurou.
Sinto-me apontado e, nem sei se devo ou não sentir-me culpado… Eu, a responsabilidade em pessoa, estava a falhar, para aqueles que sem saberem, eram as bitolas mais significativas da minha conduta. O porteiro, a senhora da limpeza, o estafeta…aqueles que, sem nunca pedirem um favor em troca, sempre foram antes simpáticos comigo, e com essa atitude me faziam acordar todas as manhãs de consciência tranquila, eram os mesmos que hoje, me faziam baixar os olhos ao passar.



Estou demasiado tocado pelo pecado, pela certeza de que estou a trair alguém, e isso, é que me deixa nervoso, e sem que me permita ripostar ou resistir, esta aventura está a avançar para um campo que me assusta… E, o meu maior temor prende-se com a certeza de que me estou a enganar, antes de mais a mim próprio.
A porta do elevador abre, e eu prometo a mim próprio, que ao fim do dia, tenho que ter as ideias arrumadas, e que o amanhã, já será muito diferente.
Estou pronto para o dia D, o dia em que tudo vai mudar, pois não vou fazer mais nada, se não fechar-me no escritório e, decidir, o que vou fazer comigo e com Sofia.
Assim que número do andar aparece, e a porta volta a abrir, o meu dedo cola-se ao botão para o voltar a premir: No átrio vejo uma silhueta, que de todo não tinha marcado a hora. O Gabriel, estava ali, debruçado na secretária da Marlene.



(continua)

domingo, setembro 10, 2006

A 100 À HORA - Capítulo 13

Capítulo 13

Continuado por: Orlando Dias Agudo


Foto:© Ricardo Costa


Foi outra cedência. Sem pensar no que o gesto poderia significar, estendi a mão e Sofia ajudou-me a levantar. O pequeno-almoço estava realmente delicioso, mas enquanto o saboreava e dizia frases soltas de circunstância, a minha mente começava finalmente a analisar a situação. Até ali, eu tinha cedido sempre. Em todas as circunstâncias. Sofia ainda não me tinha ouvido pronunciar a palavra “não”. Sempre obtivera o “sim” e, na ausência da palavra, tinha tido o gesto. O que começava a irritar-me...
Quando o pequeno-almoço terminou e sem que desse a notar alguma impaciência, levantei-me e falei para Sofia:
- Tenho de me ir arranjar porque tenho de ir ao escritório...
- Já? Não é ainda cedo? – Perguntou Sofia – Olhe que o dia é grande...
-Pois é...mas nem imaginas como está grande a pilha de papeis que tenho na secretária.
- É pena...tinha uma sugestão para te apresentar....
- Pois hoje não poderei aproveitar...
- Dizes-me que não?
- Hoje tem de ser...
- É a primeira vez que me dizes que não...

Sinal de que Sofia também estava atenta. Até ali, eu tinha sido o cachorrinho que tinha feito todas as vontades á dona. Só que, desta vez, o cachorrinho tinha tido a coragem de dizer “não”.
Preparei-me para sair. Já devidamente equipado chamei por Sofia pois não queria sair sem me despedir. Ouvi a sua resposta vinda do quarto onde dormíramos...e não só. Não me pediu um minuto. Apenas disse para ir ter com ela...
Fui. Quando abri a porta, nem queria acreditar no que via: Sofia estava embrulhada numa toalha de banho, ainda molhada e passeando um pente pelo cabelo. Seus lábios afivelavam um sorriso já conhecido e maliciosamente perguntou-me:
- Não queres vir limpar as costas?
- Tenho de ir...tenho imenso trabalho para fazer...
-Acredito...mas limpar-me as costas não demora muito tempo...
- Se fosse só limpar as costas ...
- É só isso que peço...
- Pois....mas sabes que eu não posso ver “rebuçados” desses...
- Estás a chamar-me rebuçado?
- Estou....e bastante doce...
- Então pousa a pasta, tira o casaco e limpa-ma as costas...

Não disse “sim” mas o gesto falou por mim. A toalha era felpuda, macia, tanto ou quase como a sua pele. Coloquei-me atrás dela e cumpri a preceito a tarefa solicitada. Mesmo que não quisesse a verdade é que o cheiro da sua pele ou do gel que usava me toldavam o raciocínio. Os cabelos molhados batiam-me na cara sempre que ela atirava propositadamente a cabeça para trás. Num repente, deixei cair a toalha e Sofia ficou abandonada nos meus braços. Beijei-lhe o pescoço, ouvi o seu esgar de prazer e de seguida moldei-lhe os seios com as palmas da minha mão. Ela virou-se, colou seus lábios aos meus, explorou com a língua toda a minha boca e com voz rouca pediu-me:
- Vem para a cama...

Embora contra vontade respondi-lhe que não...


Continua...

A 100 À HORA - Capítulo 12



Capítulo 12


Continuado por: Ricardo Costa


Foto:© Ricardo Costa


Acordei.
Calmo e com um sorriso nos lábios e na alma... por breves instantes senti-me feliz. E longe iam os tempos em que sentia esta leveza, esta serenidade ao acordar ao lado de uma mulher.
Toda a historia de Maria, deixou marcas, que teimavam em não passar. O sentimento vertiginoso de perda, de solidão, desespero,...
Perder os meus pais foi horrível. Mas tinha-o aceitado como um marco, e com toda a força da juventude, consegui usar, sim, era a palavra certa, usar a dor como uma espécie de combustível. Tinha toda uma vida pela frente e se algo havia herdado deles, era essa forma forte e positiva de seguir em frente, dia após dia.
Perder a Maria foi mais penoso. O que tirar daquela traição e desilusão, que pudesse de alguma forma ser positiva? Apenas dor e magoa. Mulheres, melhor é serem mesmo descartáveis... não o sentia assim na verdade, mas tentava, e até se ia safando...
E agora? Sofia. Os gregos é que a sabiam toda, riu-se para o travesseiro... sophia – sabedoria. Teria de manter algum sentido de humor no meio desta confusão.
Levantou-se.
A noite ameaçava morrer, e a luz frágil de um novo dia dava por acabada uma noite de prazer, forte e intenso sim, mas cada vez mais lúcido.
Tenho de pensar nisto bem mais friamente. Posso lá agir como um puto? Se calhar devia. Pior é que não me sinto capaz de levar com outra “Maria”, e neste caso a troca até já faz parte do “pack”.
Troca. Era isso. Troca.
Ela era casada, isso tudo bem. Acontece. Tinha-o visto vezes sem conta nos primeiros anos da sua profissão. Divórcios, conheço-os bem. Mas raios homem! Aqui ela quer trocar a tua alma por uma clausula num qualquer testamento! Sentia a cabeça explodir.
Não queria, mas... tem de ser. Acho que mereço. Pegou num cigarro e acendeu-o. Estava então sentado no chão da varanda, saboreando o primeiro cigarro em anos.
Tinha sempre um maço no casaco. Tinha deixado o habito. Tinha-se ido com Maria... todo o ritual de fumar lembrava-o demais a sua presença.
Prazeres como este são mortais. E estúpidos, mas são nossos.
Sofia. Pela primeira vez sentiu-se usado. Andava nas nuvens com a sua beleza, com o seu cheiro, com o seu toque, com a esperança, sim, porque não? Também quero ser amado! Mereço! Não tenho é feito muito para que isso aconteça...
Ela estava simplesmente a tentar “facturar” à sua custa. E pior ainda, com o consentimento de Gabriel. O tipo continua a só ver números. E eu vou acabar a ver navios...
- Mário ? Que fazes aqui? Que frio! Estou a preparar um belo pequeno almoço, anda, dá-me a tua mão...


Continua...