domingo, setembro 10, 2006

A 100 À HORA - Capítulo 12



Capítulo 12


Continuado por: Ricardo Costa


Foto:© Ricardo Costa


Acordei.
Calmo e com um sorriso nos lábios e na alma... por breves instantes senti-me feliz. E longe iam os tempos em que sentia esta leveza, esta serenidade ao acordar ao lado de uma mulher.
Toda a historia de Maria, deixou marcas, que teimavam em não passar. O sentimento vertiginoso de perda, de solidão, desespero,...
Perder os meus pais foi horrível. Mas tinha-o aceitado como um marco, e com toda a força da juventude, consegui usar, sim, era a palavra certa, usar a dor como uma espécie de combustível. Tinha toda uma vida pela frente e se algo havia herdado deles, era essa forma forte e positiva de seguir em frente, dia após dia.
Perder a Maria foi mais penoso. O que tirar daquela traição e desilusão, que pudesse de alguma forma ser positiva? Apenas dor e magoa. Mulheres, melhor é serem mesmo descartáveis... não o sentia assim na verdade, mas tentava, e até se ia safando...
E agora? Sofia. Os gregos é que a sabiam toda, riu-se para o travesseiro... sophia – sabedoria. Teria de manter algum sentido de humor no meio desta confusão.
Levantou-se.
A noite ameaçava morrer, e a luz frágil de um novo dia dava por acabada uma noite de prazer, forte e intenso sim, mas cada vez mais lúcido.
Tenho de pensar nisto bem mais friamente. Posso lá agir como um puto? Se calhar devia. Pior é que não me sinto capaz de levar com outra “Maria”, e neste caso a troca até já faz parte do “pack”.
Troca. Era isso. Troca.
Ela era casada, isso tudo bem. Acontece. Tinha-o visto vezes sem conta nos primeiros anos da sua profissão. Divórcios, conheço-os bem. Mas raios homem! Aqui ela quer trocar a tua alma por uma clausula num qualquer testamento! Sentia a cabeça explodir.
Não queria, mas... tem de ser. Acho que mereço. Pegou num cigarro e acendeu-o. Estava então sentado no chão da varanda, saboreando o primeiro cigarro em anos.
Tinha sempre um maço no casaco. Tinha deixado o habito. Tinha-se ido com Maria... todo o ritual de fumar lembrava-o demais a sua presença.
Prazeres como este são mortais. E estúpidos, mas são nossos.
Sofia. Pela primeira vez sentiu-se usado. Andava nas nuvens com a sua beleza, com o seu cheiro, com o seu toque, com a esperança, sim, porque não? Também quero ser amado! Mereço! Não tenho é feito muito para que isso aconteça...
Ela estava simplesmente a tentar “facturar” à sua custa. E pior ainda, com o consentimento de Gabriel. O tipo continua a só ver números. E eu vou acabar a ver navios...
- Mário ? Que fazes aqui? Que frio! Estou a preparar um belo pequeno almoço, anda, dá-me a tua mão...


Continua...

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