quinta-feira, outubro 28, 2010

A 100 À HORA - Capítulo 18

Capítulo 18


Por: Rita Rolo


Eram onze e meia quando a campainha tocou.
- Sim?
-É a Marlene.
- Suba.
 Abri a porta de entrada do prédio. Estava com nervoso miudinho, não sei bem se por querer saber que notícias ela me trazia se por querer vê-la pura e simplesmente.
Bate à porta.
- Vou já (mentira... já estava colado á porta).
- Boa noite Marlene.
- Boa noite Mário.
 E eu a fingir que estava controladíssimo quando me sentia como um miúdo por dentro, nunca tinha visto a Marlene vestida para a noite, por assim dizer. Ela trazia um vestido preto justo que lhe assentava que nem uma luva, ela era lindíssima na sua simplicidade.
-Então, tem novidades para mim?
-Não me vai oferecer um copinho de vinho?
-Claro que sim, que cabeça a minha.
 Servi um copo de vinho á Marlene  e servi-me também, a bebida estava com um sabor fenomenal esta noite, não sei se era da companhia ou se já estava um bocadinho tocado.
-Vamos então falar do que me tráz aqui.
-Sim, vamos, estou curioso.

Ela descalçou-se e pôs os pés em cima do sofá com as pernas de lado dobradas, ficava tão inocente naquela posição.
 Não podia deixar que a minha mente vagueasse nesta direcção, estávamos ali por outra razão.
-Fui ter com o Gabriel como me pediu. Ele desabafou um bocadinho mas é difícil retirar informações dele.
-Mas conseguiu saber mais alguma coisa?
-É tudo verdade, ele anda desesperado para que o Mário aceite fazer um filho á mulher dele. Tudo para ganhar a tal herança dos seus tios.
-Então é mesmo verdade...
-Sim, é. O que está a pensar em fazer Mário?
Naquele momento não estava a pensar nada, nem conseguia, os pensamentos andavam tão rapidamente no meu cérebro que nem os conseguia distinguir.
-Não sei bem Marlene, para dizer a verdade.
-Mas está a ponderar aceitar a proposta?
-Não sei, ainda não decidi nada. Isto de se fazer filhos para os outros não estava no meu calendário, nem para mim estava... Nunca pensei nisso desta maneira, tenho andado muito confuso.
-Compreendo. Acho que o Gabriel está a ponderar oferecer-te uma parte dessa fortuna em troco do filho.
-Mesmo assim, o problema aqui não é o dinheiro, é tudo o que irá acontecer na minha vida e na minha cabeça depois do bebé nascer.
-Como assim? Não estou a perceber.
-Como assim?? É um filho... Meu! Que nunca saberá que sou o pai dele.
-Claro...
-Nunca fará parte da minha vida, não poderei ajudar na sua educação. É muito complicada toda esta situação.
E pensar na vidinha pacata que eu levava, casa trabalho casa. Maldito o dia que decidi tirar um tempinho para mim, para descansar...
E depois ainda havia a Sofia. Sofia... Aquela deusa. Se bem que tenho um pressentimento que ela só me está mesmo a usar como o Gabriel, mesmo ela estando a tentar mostrar que o interesse dela vai além disso.
- Quer que continue a insistir com o Gabriel?
-Não Marlene, sei que lhe custa e nunca lhe deveria ter pedido isso.
-Não há problema, foi uma maneira de me redimir pelo que lhe fiz.
-Tudo já passou, agora tenho que organizar a minha vida e decidir o que vou fazer...
-Sei que tomará a decisão certa Mário, tenho confiança no seu discernimento.
-É melhor não ter essa certeza, porque neste momento nem eu tenho...
 O sono apoderou-se de mim e por incrível que pareça nada se passou entre mim e a linda da Marlene. Continuámos a falar sobre decisões e o difícil que é tomá-las em certas alturas da nossa vida, continuámos a beber vinho e adormeci com a cabeça no seu colo.
Quando acordei de manhã estava sozinho no sofá, a sala estava limpa, nem sinal dos copos e das garrafas de vinho. Estava tapado com um cobertor que costuma estar em cima da minha cama, da Marlene nem sinal.
O telefone tocou, era um número confidencial.
-Estou sim?
-Bom dia...
-Marlene?
-Marlene!? Já nem conheces a minha voz? É a Sofia...              


continua...