domingo, outubro 01, 2006

A 100 À HORA - Capítulo 15


Capítulo 15


Continuado por: Orlando Dias Agudo


Se não tivesse assistido, nos últimos dias, a episódios nunca antes imagináveis, diria que tinha sido apanhado de surpresa. Mas, nesta altura do campeonato, confesso que já nada me causava surpresa. Gabriel conhecia a Marlene, fiquei a saber; e não era de hoje nem de ontem a avaliar pela posição em que foram apanhados. Isso também explicava muita coisa. Marlene era a minha secretária, sabia da minha agenda, quando estava ou saia e para onde, enfim o elo de ligação perfeito para o “inimigo” saber onde me encontrar. Só não consegui entender, á primeira, a quase cena de ciúmes de que deu mostras, quando regressei um dia mais tarde de um fim de semana…e trazia o telemóvel trocado. Mas enfim…haveria de descobrir um dia.
Quando parei em frente de Gabriel e de Marlene, procurei não mostrar a surpresa que tinha acabado de ter…
- Bom dia, Marlene – saudei
-Bom dia, senhor doutor – respondeu…acrescentando – não sei se conhece este meu amigo, o Dr. Gabriel Saldanha, que lhe queria dar uma palavrinha…
-Pois não…O Gabriel foi meu colega de liceu….Queres entrar?

Confesso que notei um certo embaraço no seu comportamento. De certeza ele não estava ali para me dar uma palavrinha, mas antes para tirar nabos da púcara da Marlene..ou outra coisa qualquer..Meio embaraçado, apenas me disse:
- Não é coisa de importante…e se calhar nem tens tempo disponível agora…

Não o quis atrapalhar mais. Disse-lhe que naquele momento não o poderia atender como merecia, mas se esperasse uma hora talvez pudéssemos conversar. Optou por ir embora, prometendo voltar..mas com hora marcada. Sinal evidente que não era a mim que ele queria…
Quando saiu, eu fui para o meu gabinete e chamei Marlene…
- Menina Marlene, vamos jogar limpo um com o outro…O dr. Gabriel queria falar comigo ou consigo?
Visivelmente perturbada e levemente roborizada, respondeu:
- Era comigo, senhor doutor…
-Então para quê essa desculpa esfarrapada? Quer falar verdade ou vamos terminar aqui e agora a nossa relação profissional?
- Eu conto tudo, senhor doutor…

E contou. Que o Gabriel tinha sido seu namorado e que nos últimos tempos a havia procurado para saber coisas a meu respeito. Confessando a sua fraqueza de mulher, ainda por cima sem namorado, caiu na armadilha dele e, numa noite contou-lhe tudo o que sabia a meu respeito. Revelou-lhe a minha agenda, onde costumava ir, a história da minha separação, enfim…quase as minhas memórias em troca de uma noite de amor…
Quando terminou estava lavada em lágrimas e –talvez - arrependida de ter revelado tudo o que sabia da minha vida profissional e pessoal. Claro que pensei imediatamente em despedi-la, mas de repente vi nela uma arma a meu favor. E joguei com ela…

- Marlene: o que você fez foi muito mau. Deveria despedi-la imediatamente e com justa causa mas não o vou fazer, se me prometer cumprir com o que vou pedir.
-Faço tudo senhor doutor….
-Pois bem. Vai encontrar-se com o dr. Gabriel, vai dormir com ele as noites que quiser ou forem necessárias, mas eu quero saber tudo sobre a sua vida sentimental. Como se dá com a mulher, se é feliz, se ele sabe se ela o engana…quero um relatório completo, ou os seus dias estão contados neste escritório. Acha que consegue?
- Vou fazer os possíveis senhor doutor e acredite que vai ser com algum sacrifício…
-Sacrifício?
- Sim, senhor doutor: é que passar uma noite com ele não é lá muito apetecível…
-Má cama?
-É. Má cama mas óptima dormida…Logo que alivia…adormece!