domingo, julho 02, 2006

A 100 À HORA - Capítulo 8

Capítulo 8


Continuado por: Marta Luís

- Chegámos…Foi a única palavra que me saiu, quando soltei a chave da ignição, frente àquele refúgio.
- Vamos. Respondeu-me Sofia prontamente.

Já não estava ansiosa como no aeroporto…pareceu-me serena, descansada. Pelo menos o silêncio daqueles minutos, terá servido para a descontrair.
- Não sei se deva entrar!...Respondi, e logo em seguida me arrependi, com medo que ela pensasse o mesmo, naquele preciso instante.
- Deixa-te de coisas, e entra…ainda temos a sobremesa!
Atirou-me com aquele olhar que mais uma vez me desconcertou.

Sinceramente, o meu apetite, era cada vez maior, talvez por reconhecer em cada gesto seu, em cada silêncio, em cada olhar, essa mesma vontade de estarmos juntos, também da parte dela. Mas, e o Gabriel? Que iria eu fazer com esse respeito que lhe devia?...E ela, Sofia, iria conseguir desligar-se dele, enquanto estivesse comigo, logo agora, que nos sabia conhecidos de tantos anos…?
Abriu-me a porta, como quem inverte os papéis e, foi uma verdadeira cavalheira comigo, estendendo-me a mão, já do meu lado do carro, do lado de fora, e deu a volta, sem eu me aperceber, enquanto pensava, e mais uma vez penso que, estava a pensar demais. Afinal, eu é que estava a ser chamado, atraído, a todo este emaranhado de sentimentos, de acontecimentos tão inesperados, e tão simultaneamente fortes, tão inocentes e românticos como cheios de fantasias que me assaltavam a mente, que chegavam a magoar de tão reais.
Deixei-me mais uma vez levar…nada tinha a temer. Aliás, com mulheres, já tinha perdido tudo o que havia para perder…anos atrás. Consegui segui-la até á sala, sem receio, e sem uma palavra, mantendo o silêncio que ela própria impusera na viagem desde o aeroporto até aqui. Entrou à minha frente, e descalçou-se, sem fechar a porta, (fui eu que a bati) e, soltou-se do grande lenço que lhe escondia o pescoço…e foi direito ao bar…
Estávamos ainda de pé… eu sem sabia por onde começar, a falar, ou a ouvir.
Tinha a sensação de que esta conversa não iria agradar-me, nem sequer estava interessado em conversar, com esta mulher que me atormentava desde que a vira a pedir ajuda na estrada a primeira vez, há dois dias atrás. Essa, que pouco me interessava se era praticamente uma estranha, ou se era a mulher de um antigo amigo da escola, e que afinal até já nem estava ali, nem na sala, nem no casamento deles, a mesma que me despertava uma vontade louca, sem medo, de a agarrar.

Serviu-me um velho malte, igual ao seu, e estendeu-me o braço, o copo, … e como um íman, o corpo todo.
Sem mais dúvidas, voltou a tirar-me o copo das mãos e, beijou-me, como se sempre o tivesse feito, e eu saboreei-a, como se já conhecesse aquele gosto, e gostasse, há tanto tempo!
Um beijo a que nunca em tempo algum, alguém conseguiria dizer que não, pelo menos eu….

Nem foi um beijo, nem de despedida, nem de chegada, ou de partida. Foi um beijo como que uma senha, um convite, para ir mais longe, para não parar por ali.
Esta mulher ou sabia, ou sem querer mesmo conseguia excitar-me, ao ponto de a querer beber, sugar de amor, e eu ainda bem que tentei parar, mas, não consegui:

-Sofia…! Nós íamos falar de alguma coisa…! Queres dizer-me …?
- Não. Não quero dizer-te nada…neste momento não há palavras que possam exprimir o que sinto!
Olhou-me nos olhos como quem tem um rasgo de lucidez, e no meio de tanto fulgor, imperava a clareza da sua fala, mais uma vez, surpreendendo-me:
-Quero viver este bocado contigo sim, quero sentir-te em mim, sem que palavra alguma te afaste, ou te force…

Ia dizer mais alguma coisa sim, mas não o permiti… Calei-a, com o grito feroz de todo o meu desejo, apertei-a em meus braços, e não insisti mais em ouvir o que quer que fosse, que me roubasse aquela mulher ali, e agora.
Foi minha, lentamente e docemente, infinitamente minha.
Fomos um do outro, pela sala, pelo chão, e as horas passaram e nós acordados.

Estava esgotado, Sofia não menos… Acabáramos na banheira, enlaçados um no outro, afogados em prazer.

Foi quando ela se preparava para ir buscar algo para comermos ao frigorífico que, tocou o telefone. Eram 6 e meia da manhã, e o sol nascia para nós, assim como um novo dia.

- Bom dia…sim acordei! Seca, distante, ela lá ia acenando, e dizendo que sim para o telefone.
Ali, eu senti-me a aterrar de um sonho… acabara de seguir o meu coração, e consequentemente de trair, um velho amigo, e de faltar ao escritório onde já deveria ter chegado ás 5 e 30, para mais uma semana super certinha, de agenda cheia e organizadíssima.
Do outro lado, claro que era o Gabriel, pareceu-me explicar-se, de que não ligara ontem à chegada, porque já ia cansado e, dizia que não sabia quando ia voltar.
- Não faz mal, quando souberes liga.

Sem comentários: