segunda-feira, janeiro 30, 2006

A 100 à hora - Capítulo 3

Capítulo 3

Continuado por: Orlando Dias Agudo


Quando parei o carro defronte o portão, o telemóvel de Sofia tocou. Ela pareceu surpreendida, mas antes de sair do carro, prontificou-se a atender. Ouviu mais do que falou. Da sua boca saíram apenas monossílabos, dando a sensação de que aceitava tudo o que lhe diziam. Foi um telefonema curto, que terminou com “um beijo” meio envergonhado. Quando desligou não me contive e perguntei:
-Algo de inesperado?
- Não, nem por isso…
- Pareceu-me teres ficado surpreendida…
( Arrisquei aqui um tratamento mais intimo, só para experimentar a reacção de Sofia )
- Não…mas gostei desse tratamento por “tu”…podemos continuar…e se queres saber o conteúdo do telefonema, talvez seja melhor entrarmos…
Era uma forma indirecta mas eficaz de me convidar a entrar. Acedi. E quando entrámos, ela convidou-me a sentar num largo e confortável sofá, enquanto ela iria trocar de vestimenta…que de fato de treino não é próprio de quem recebe alguém em casa, argumentou.

Quando fiquei sozinho, passeei os olhos pelas vastas estantes que emolduravam as paredes. Livros de ciência e também de literatura, obras de autores portugueses e também estrangeiros. Duas enormes telas completavam a decoração da sala e embora eu não fosse nem por sombras um “expert” na matéria, apostaria que eram de autores de renome.
Passados alguns minutos, Sofia regressou. Vinha espantosa de beleza, com um vestido que deixava antever, sem batotas, a perfeição do seu corpo. Ela sabia que era bonita e bem feita e não procurava esconder nada…
Dois copos, uma garrafa de whisky e estava criado o ambiente para finalmente ela me dizer o conteúdo do telefonema.
- Sabes quem me ligou?
- Não faço a mínima ideia….não conheço a lista dos teus amigos…
-Foi meu marido…
- A conversa foi fria….diria eu!
- Talvez…telefonou-me de Londres a dizer que não pode regressar hoje. Nem talvez no fim-de-semana.
- Tinham combinado encontrarem-se aqui…
- Sim, mas pelos vistos não pode…
- E vais ficar sozinha todo o fim-de-semana?
- Não tenho outra solução…mas talvez possa contar com a tua companhia…
(Um sorriso malicioso, a roçar a provocação, bailou-lhe nos lábios)
- Podes contar comigo. Aliás será com muito gosto que te farei companhia…

A conversa não foi muito mais longe. Confirmou apenas o que tinha dito quando lhe dei a boleia: que o marido viajava muito, hoje estava em Londres para a semana talvez em Bruxelas, afinal um homem de ciência que espalhava o seu saber em conferências por esse mundo fora. Foi a pensar que o poderia acompanhar, que tinha desistido de dar aulas…Mas isso foi só nos primeiros tempos. Depois ele começou a ir sozinho, deixando-a ou em Lisboa ou ali naquele recanto.
Era já tarde. Passava da uma da manhã quando deu conta que tinha de regressar. A bela companhia convidava a continuar, mas não podia ser. Tanto eu como Sofia precisávamos de dormir. Assim sendo, levantai-me do sofá e preparei a despedida, não sem antes a lembrar que no dia seguinte, logo de manhã, tinha de ligar ao serviço de assistência em viagem, para que o seu carro fosse transportado para Lisboa. Ela disse que o faria…
Combinámos novo encontro para o dia seguinte, para um almoço num local muito discreto que eu conhecia.
À despedida ofereceu-me a face para um beijo de despedida: nos meus lábios senti o aveludado da sua pele como senti a sua mão docemente pousada no meu braço.
Segui para o hotel com a certeza de que no dia seguinte o almoço seria magnífico.

Continua...


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