sexta-feira, maio 12, 2006

A 100 À HORA - Capítulo 7


Capítulo 7

Continuado por: Orlando Dias Agudo



Gabriel chegara no momento certo. Não fosse o seu grito anunciando a sua chegada, e não sei se nossos lábios se desgrudariam tão cedo. Mesmo assim, ainda senti a sua língua explorando a minha boca, numa dádiva tão intensa quanto a fome de sorver meus lábios. Foi por pouco que Gabriel não viu aquele beijo...ou se viu, disfarçou muito bem...
Logo que deu sinal de vida, Gabriel voltou para casa, mais preocupado em arrumar tudo quanto trouxera do que em saber o que estávamos a fazer no baloiço do jardim. Sofia, nada incomodada com o facto do marido ter tido hipóteses de assistir ao beijo, saltou do baloiço qual criança mimada e desafiou-me a regressar ao casebre.

- Mário...gostei do sabor dos teus lábios...
- Eu também, mas nunca esperei que isto pudesse acontecer...
- Eu depois explico...deixa correr os acontecimentos...

Limitei-me a encolher os ombros. Deixei que ela pegasse outra vez na minha mão e me guiasse para casa. Desta vez íamos a passo e não trocámos mais nenhuma palavra. Sentia, isso sim, uma agradável pressão da sua mão na minha, como se segurasse alguma coisa que não queria perder. Nesta altura, eu já não raciocinava direito. Era capaz de deitar os princípios às ortigas e aceitar aqueles convites sucessivos para satisfazer os desejos que me invadiam. Mas, como Sofia me dissera...ia deixar correr os acontecimentos...

Chegados a casa, Gabriel estava a atender o telemóvel, enquanto alinhava tudo para o jantar. Era ainda cedo, por isso Sofia resolveu ir tomar um duche muito rápido enquanto me estendia o copo de whisky que ficara em cima da mesa antes de termos ido ao jardim. Enquanto Gabriel atendia o telemóvel, Sofia segredou-me que ia tomar um duche frio...não deixando de me piscar o olho num gesto provocador...

Entretanto Gabriel continuava ao telefone. Ouvia mais do que falava. Perguntou se não havia outra solução, olhou para o relógio e encolheu os ombros num gesto de resignação. Eu continuava a deliciar-me com o whisky que Sofia havia preparado. Quando finalmente Gabriel desligou o telemóvel, virou-se para mim e fez aquela pergunta que todos fazem em circunstâncias semelhantes:

- Meu caro, o que estás a beber?

Respondi e logo Gabriel começou a falar do seu trabalho. Sofia bem havia dito: “quando ele começa a falar das suas coisas, nunca mais se cala”...Passados alguns minutos, Sofia veio salvar a situação entrando de roldão na sala. Vinha deslumbrante, se é que algum do seu vestuário não a deixava sempre assim. Mas as calças justas deixavam antever o desenho das suas belas pernas, enquanto a blusa deixava adivinhar uns mamilos bem hirtos nuns seios suficientemente desenvolvidos para me agradarem.

- Amor, temos de jantar já porque surgiu um contratempo – e ao falar assim Gabriel não escondeu o desagrado que sentia...
- Contratempo? – perguntou Sofia – Era só o que faltava...O que é desta vez?
- Vamos jantar....depois digo....
- Não será melhor dizeres já? Para sabermos com que contamos?
- Está bem, eu digo; depois de jantar tenho de ir apanhar o avião para Lisboa, porque amanhã de manhã tenho de estar em Bruxelas.
- E vais no avião da noite?
- Sim...do escritório fizeram a reserva para o das 23:30. Temos portanto muito tempo para jantarmos e gozarmos da companhia deste meu amigo e antigo colega....

Se a noticia deixou Sofia aborrecida, não se notou. O jantar decorreu de forma normal, apenas com um protagonista. Gabriel falava por si e por mim mais Sofia. Nós trocávamos olhares , talvez mensagens indecifráveis, até que chegou a hora de Gabriel seguir para o aeroporto. É evidente que me ofereci para o levar. Só que Sofia teimou em ir também.

E fomos...Quando o deixámos no aeroporto, Sofia pediu-lhe para ligar quando chegasse a Lisboa, deu-lhe um beijo tão frio quanto se pode imaginar e ela quis assistir á descolagem do avião. Para ter a certeza, confidenciou-me...

De regresso ao carro, perguntei-lhe se queria ir a qualquer local beber um copo ou se preferia ir para casa. Respondeu-me que preferia ir para casa, pois esperava o telefonema do marido e...tinha muito para conversar comigo.

Não trocámos uma única palavra até estacionar o carro á porta da sua vivenda....


Continua...

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